sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Uma mulher da rua

*Matéria originalmente publicada na Gazeta do Povo, no dia 02/12/2011 por José Carlos Fernandes.

Aos 18 anos, Carmem “caiu na vida”. Um dia, experimentou a humilhação da fome e do frio e viu de perto as agruras da vida fácil. Foi o que bastou para que criasse o grupo Liberdade, ONG que faz das tripas coração para prevenir a aids em prostitutas.


Foto: Jonathan Campos Arte: Felipe Lima


Em menina, na década de 70, a moradora do Capão Raso Carmem do Rocio Costa se via cantarolando feito doida as canções de Márcio Greyck – autor de arranca peitos como Amar não é pecado. Pois Greyck mudou a vida da guria... Ela se tornou uma romântica inconsolável, uma heroína dos folhetins de Gloria Magadan, uma avoada da porta do colégio.Aos 18 anos, apaixonada da primeira à última acne, desafiou as oposições de sua mãe a um romance. Não ficou só na ameaça: orientada por uma amiga já iniciada, entregou-se “ao primeiro que apareceu”. Depois soltou a bomba: “Pronto mãe. Agora sou uma prostituta”. Na houve na vizinhança quem não soubesse. Era “a perdida”.Mas como que por encanto, não se disse palavra – Carmem podia ir à venda e ao Colégio Francisco de Azevedo Macedo, onde estudava. Diante dela, nenhum pio. Saía para seu trottoir diário com a naturalidade de quem ia à Pracinha do Novo Mundo comprar jujubas.

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